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domingo, 6 de maio de 2012

A CRIANÇA E O BRINCAR



A Criança aprende a Brincar


O brincar é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a infância. Infelizmente, até há relativamente pouco tempo, o brincar era desvalorizado e menosprezado, destituído de valor a nível educativo. Com o evoluir dos tempos, atravessa-se uma mudança na forma como se percepciona o brincar, e a sua importância no processo de desenvolvimento duma criança.

Actualmente, verifica-se uma maior preocupação com a formação das crianças: tanto pais, como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis, equilibradas, etc, contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma "ferramenta", por excelência, para que a criança desenvolva essas qualidades.

Mais do que uma "ferramenta", o brincar é uma condição essencial para o desenvolvimento da criança. Através do brincar, ela pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação. Ao brincar, exploram e reflectem sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas, interiorizando-as e, ao mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais. O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Para além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
Através da brincadeira, as crianças ultrapassam a realidade, transformando-a através da imaginação. Desta forma, expressam o que teriam dificuldades em realizar através do uso de palavras. Os jogos das criança não são apenas recordações do que vêem os adultos fazerem. Elas nunca reproduzem de forma absolutamente igual ao sucedido na realidade. O que sucede é uma transformação criadora do percepcionado para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança, ou seja, uma reinvenção da realidade.

O brincar apresenta características diferentes de acordo com o desenvolvimento das estruturas mentais, existindo, segundo Piaget, 3 etapas fundamentais:


Dos 0 aos 2 anos de idade- Aqui ocorrem os chamados Jogos de Exercício. Neste período, a criança vai adquirindo competências motoras e aumentando a sua autonomia. Vai preferindo o chão ao berço, demonstrando alegria nas tentativas de imitação da fala... vai revelando prazer ao nível da descoberta do seu corpo através dos sentidos.
Elabora então as suas brincadeiras à volta da exploração de objectos através dos sentidos, da acção motora, e da manipulação - características dos "jogos de manipulação". Estes jogos oferecem sentimentos importantes de poder e eficácia, bem como fortalecem a auto-estima. Deste modo, constituem peças fundamentais para o desenvolvimento global da criança.

Entre os 2 e os seis/sete anos de idade- A simbologia surge com um papel fundamental nas brincadeiras, como são exemplo o "faz de conta", as histórias, os fantoches, o desenho, o brincar com os objectos atribuindo-lhes outros significados, etc. Os jogos simbólicos são possíveis dado que, nesta fase, a criança já é capaz de produzir imagens mentais. A linguagem falada permite-lhe o uso de símbolos para substituir objectos.


O jogo simbólico oferece à criança a compreensão e a aprendizagem dos papéis sociais que fazem parte da sua cultura (papel de pai, de mãe, filho, médico, etc.).


A partir dos sete anos de idade – Por fim, as brincadeiras e jogos com regras tornam-se cruciais para o desenvolvimento de estratégias de tomada de decisões. Através da brincadeira, a criança aprende a seguir regras, experimenta formas de comportamento e socializa, descobrindo o mundo à sua volta. No brincar com outras crianças, elas encontram os seus pares e interagem socialmente, descobrindo desta forma que não são os únicos sujeitos da acção e que, para alcançarem os seus objectivos, deverão considerar o facto de que os outros também possuem objectivos próprios que querem satisfazer.
Nos jogos com regras, os processos originados e/ou desenvolvidos são outros, uma vez que nestes o controlo do comportamento impulsivo é diferente e necessário. É a partir das características específicas de cada jogo que a criança desenvolve as suas competências para adaptar o seu comportamento, distanciando-o cada vez mais da impulsividade. Nestes jogos, os objectivos são dados de uma forma clara, devido à sua própria estrutura, o que exige e permite, por parte da criança, um avanço na capacidade de pensar e reflectir sobre as suas acções, o que lhe permite uma auto-avaliação do seu comportamento moral, das suas habilidades e dos seus progressos.


Brinquedo

O brinquedo representa uma oportunidade de desenvolvimento. Ele traduz o real para a "realidade infantil", suavizando o impacto provocado pelo tamanho e força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Os problemas que surgem na manipulação dos brinquedos, jogos, etc, fazem a criança crescer através da procura de soluções e alternativas. Por exemplo, um boneco pode ser um bom companheiro e aliado; uma bola, um promotor do desenvolvimento motor; um puzzle, estimular o desenvolvimento cognitivo; etc.


O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca, por exemplo, a correr atrás duma bola, alcança níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Simultaneamente, estimula-se a atenção, a concentração e a imaginação e, por consequência, contribui para que fique mais calma, relaxada e aprenda a pensar, estimulando a sua inteligência e autonomia.


Papel dos Adultos

O adulto pode (e deve) estimular a imaginação das crianças, despertando ideias, questionando-as de forma a que elas próprias procurem soluções para os problemas que surjam. Além disso, brincar com elas, procurando estimular as crianças e servir de modelo, ajuda-as a crescer.


O brincar com alguém reforça os laços afectivos. Um adulto, ao brincar com uma criança, está-lhe a fazer uma demonstração do seu amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças.

 Conclusão

O brincar não significa apenas recrear-se, antes pelo contrário, é a forma mais completa que a criança tem de comunicar consigo mesma e com o mundo.

A criança precisa ter tempo e espaço para brincar. É importante proporcionar um ambiente rico para a brincadeira e estimular a actividade lúdica no ambiente familiar e escolar, lembrando que rico não quer dizer ter brinquedos caros, mas fazer com que elas explorem as diferentes linguagens que a brincadeira possibilita (musical, corporal, gestual, escrita), fazendo com que desenvolvam a sua criatividade e imaginação.

É a brincar que aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela se estrutura e conhece a realidade. Além de estar a conhecer o mundo, está-se a conhecer a si mesma. Ela descobre, compreende o papel dos adultos, aprende a comportar-se e a sentir-se como eles.

O acto de brincar pode incorporar valores morais e culturais, em que as actividades podem promover a auto-imagem, a auto-estima, a cooperação, já que o lúdico conduz à imaginação, fantasia, criatividade e à aquisição dum sentido crítico, entre outros aspectos que ajudam a moldar as suas vidas, como crianças e, futuramente, como adultos.

É através da actividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com os seus semelhantes: a conviver como um ser social.

Primeiro Ano
Nesta fase, existe uma enorme dependência da mãe, com a qual o recém nascido mostra-se quase fundido, ainda sem grande capacidade de individualidade e autonomia.
O sentimento de aceitação incondicional pela mãe é um factor indispensável ao desenvolvimento da confiança. Na ausência de uma relação duradoura com uma pessoa (para alimentação, cuidados, contacto da pele), pode resultar a retirada para dentro de si mesmo, ou indiferença.


No início, a criança sente a mãe como parte de si mesmo. Com o aproximar o fim do primeiro ano, a criança aprende a vivenciar a mãe como objecto separado (com identidade e papel próprios). Aprende a esperar (tolerância à frustração) e dessa capacidade de espera resulta que a criança começa a ter, interiormente, uma representação da mãe.



Mas, estes momentos de crescimento só serão possíveis se esta primeira etapa for suficientemente preenchida de boas experiências emocionais que permitam ao bebé um modelo de estabilidade e segurança, previsível e contínuo. Ganham os bebés que se ligarem bem aos adultos mais próximos e com eles construírem uma relação de confiança básica, marcada por um padrão rotineiro, sem períodos de separações traumáticas ou perdas de figuras de referência. Perdem aqueles que, por oposição, possuírem vinculações inseguras, marcadas pela instabilidade ou por múltiplos prestadores de cuidados.



Esta vinculação pode ser indicadora da qualidade das ligações emocionais futuras da criança. As crianças cuja ligação com a mãe ocorreu de modo seguro, estão naturalmente mais aptas a gostar de ir à escola, aprender, brincar, receber e visitar amigos, e um dia namorar, casar, terem a sua família organizada, pois possuem uma confiança básica em si e no mundo.



Mas é também pelas pequenas frustrações do dia-a-dia que a criança continua a crescer. Nenhum pai está sempre a 100% em tudo o que diz respeito à capacidade de resposta das necessidades dos seus filhos. Dentro de certos limites, é por uma boa dose de frustração (desapontamento, desilusão) que a criança reconhece cada vez mais os seus limites, bem como os dos outros que dela cuidam, e sai, pouco a pouco, de uma posição omnipotente.



É igualmente aconselhável que, durante o primeiro ano de vida, o bebé possa ocupar o seu espaço privado de criança num quarto próprio. Para que, pouco a pouco, se possa adaptar a pequenos sinais da sua autonomia emocional.



Neste Estádio de Desenvolvimento, os bebés aprendem principalmente através dos sentidos e são fortemente afectados pelo ambiente imediato. Daí a importância em fornecermos um meio sensorial rico e responsivo de modo a promover o desenvolvimento da inteligência das crianças.

Segundo / Terceiro Ano
Depois do primeiro ano, existem 3 pontos que são considerados marcos evolutivos: o aparecimento da marcha, o início da linguagem (sobretudo a possibilidade de dizer "não") e o controlo dos esfíncteres que representa a possibilidade de entre os 2 e 3 anos prescindir-se do uso de fraldas.



Com a aprendizagem da marcha e da linguagem a criança adquire de forma progressiva a sua independência motora, ficando muito mais apta a explorar o que a rodeia. Nesta fase, a capacidade de tolerar a distância e a ausência dos pais é maior, mas ainda não é substancial. É que, para que exista uma presença emocional dos pais na vida psíquica da criança, a sua presença é ainda muito necessária.



Nesta fase, ocorre o controlo dos esfíncteres. Do ponto de vista da criança, tal implica uma renúncia, um "favor" que presta à mãe.



A linguagem começa igualmente a desenvolver-se e, a possibilidade de dizer "não", "eu" e "meu" surge como a expressão do eu próprio em oposição ao outro.



Uma vez que este é o período em que as crianças estão mais abertas à aprendizagem da linguagem, os adultos que falam muito com as crianças, que lhes lêem, ensinam canções e poemas infantis (por outras palavras, que usam a linguagem para comunicar com elas) têm um efeito marcante no seu desenvolvimento linguístico.



Nesta fase de desenvolvimento, a criança investirá muito na medição das suas posses, limites (de que algumas birras são exemplo), bem como de comportamentos omnipotentes, de risco ou de oposição. Embora seja um aspecto fundamental em todo o desenvolvimento, nesta fase é ainda maior a importância das regras e limites estabelecidas às e com as crianças.



Frequentemente, existe uma tendência para facilitar-lhes tudo, devido a uma culpabilidade inconsciente que muitos pais sentem ao não despenderem com os seus filhos o tempo que consideram ideal, achando-se que conter, frustrar, contrariar ou proibir pode prejudicar a criança.



Verifica-se que as crianças mais inseguras e com um maior sentimento de desprotecção são aquelas que, desde pequenas, não lhes foram passadas regras nem limites por uma entidade protectora.


Terceiro / Quarto Ano
Esta é uma fase marcada pelas repercussões psicológicas do reconhecimento da diferença anatómica entre sexos.



A criança pequena começa a identificar-se com o progenitor do mesmo sexo (o menino com o papel do pai, a menina com o modelo materno). Fazem parte da mesma época as brincadeiras em que se mostram os órgãos genitais (conduta aparentemente "exibicionista", brincadeiras de médicos, etc.). É a época das perguntas, das repetições com tonalidades prazerosas. O pensamento apresenta uma falta de separação nítida entre a fantasia e a realidade.



Nesta fase aumenta a curiosidade em explorar questões relacionadas com a vida dos adultos, como: de onde vêm os bebés, como foi o seu nascimento, etc. Cabe aos pais procurar satisfazer essa curiosidade, sem cometerem o erro de aprofundar à medida do desejo que a criança parece requerer, pois ela ainda não possui uma maturidade psicológica que permita lidar com essa informação.



Nesta etapa surge, como factor significativo, a necessidade de manter viva a diferença geracional entre os pais e a criança, daí a importância de a criança não dormir, nem tomar banho com os pais, procurando-se, dessa forma organizar os seus limites.

Entre os Cinco e os Sete Anos
Inaugura-se o período de calma, no desenvolvimento emocional e impulsivo. O pudor faz passar para segundo plano o interesse pelo que é instintivo, principalmente perante os adultos - o chamado período de latência sexual, que vai até a puberdade. A esfera de acção excede a família (jardim de infância, companheiros da mesma idade). A fantasia concentra-se nas fábulas (bem e mal); as brincadeiras sujeitam-se a regras. O princípio da realidade vai ganhando terreno ao princípio do prazer.

A partir dos Seis / Sete Anos
A escola ajusta-se muito bem e de muitas formas ao estádio de desenvolvimento das crianças, exigindo delas produção e ordem. A relação com as novas pessoas que representam a autoridade e a competência exercita, da parte da criança, a adaptação, a auto-afirmação, a capacidade de concentração, etc.



Nestas idades, deve-se dar ênfase a competências e actividades como contar, classificar, construir e manipular, com o objectivo de estimular o desenvolvimento cognitivo da criança.
Neste estádio, as actividades podem agora ter regras. O valor destas é quase mais significativo do que a actividade em si. Enquanto que, a criança, em idade pré-escolar, obedece às regras sem compreender porque existem, a partir dos 6/7 anos percebe as regras pelo seu valor funcional.
A identidade de sexo continua a estruturar-se, através dos modelos de identificação masculina e feminina fornecidos pelos adultos mais significativos. Só pode crescer bem como rapaz ou rapariga quem tem para quem olhar e com quem se identificar.

Educação
Não é possível dar receitas para uma educação "correcta". Os conselhos isolados, ao contrariarem o estilo educativo geral, confundem os pais e fazem com que a criança fique sem saber de que modo deve comportar-se. Mais fácil do que dar receitas de educação "normal" é dizer como não se deve ser a educação: despótica, dogmática, moralizadora, superexigente, com mimos excessivos, abandono ou contradições.



O que importa, pois, é a atitude global dos pais, sendo válida a antiga norma do amor e do exemplo. A união entre os pais, a capacidade para servir de modelos, aceitação incondicional da criança, sem mimá-la em excesso. Os pais devem ser firmes sem dureza, bem humorados sem frivolidade, deixando a criança "um pouco solta", sem angústias, nem indiferença: estas são as melhores condições para a criança aprender a auto-afirmar-se, não se tornando egoísta e passiva.



A forma da educação deve ajustar-se à idade da criança. À criança em idade Pré-Escolar, deve-se, até certo ponto, "soltar", não lhe perturbando o desenvolvimento com excesso de cuidados educativos; por outro lado, só se aprendem umas tantas normas, nessa idade, mediante uma espécie de condicionamento, à base de prémio e castigo. A criança, em idade escolar, é mais acessível ao conselho e ao esclarecimento (dentro de certos limites).



Algumas palavras sobre os castigos corporais aplicados à criança pequena: os pais podem chegar à agressão, o que, aliás, com conta, peso e medida, não prejudica a criança, podendo até educativo. No entanto , o próprio castigo deve ser caloroso (tanto no que diz respeito ao afecto parental como relativamente à recordação que a criança guarda); não deverá deixar ressentimento nem aos pais, nem aos filhos



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